quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Adeus

"Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,

e o que nos ficou não chega

para afastar o frio de quatro paredes.

Gastámos tudo menos o silêncio.

Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,

gastámos as mãos à força de as apertarmos,

gastámos o relógio e as pedras das esquinas

em esperas inúteis.



Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.

Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;

era como se todas as coisas fossem minhas:

quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.

E eu acreditava.

Acreditava,

porque ao teu lado

todas as coisas eram possíveis.



Mas isso era no tempo dos segredos,

era no tempo em que o teu corpo era um aquário,

era no tempo em que os meus olhos

eram realmente peixes verdes.

Hoje são apenas os meus olhos.

É pouco mas é verdade,

uns olhos como todos os outros.



Já gastámos as palavras.

Quando agora digo: meu amor,

já não se passa absolutamente nada.

E no entanto, antes das palavras gastas,

tenho a certeza

de que todas as coisas estremeciam

só de murmurar o teu nome

no silêncio do meu coração.



Não temos já nada para dar.

Dentro de ti

não há nada que me peça água.

O passado é inútil como um trapo.

E já te disse: as palavras estão gastas.



Adeus."

Adeus, Eugénio de Andrade

sábado, 31 de julho de 2010

Perdão

"Perdoo-lhe tudo, com a convicção íntima de que o perdão é o maior desprezo que se pode oferecer a alguém. Há um prazer obscuro nesta arrogância de parecer bom, de castigar com o perdão as falhas dos outros".
Os Íntimos, Inês Pedrosa



sexta-feira, 11 de junho de 2010

Parece que o destino nos quebrou

"Parece que o destino nos quebrou


Mas não mais a tristeza voltará a mim
 
(..)
 
Eu pensei que era tão bom


O amor dentro de nos era tão bom
 
(..)
 
Parece que este fumo nos mentiu


Levou-nos pela mão depois fugiu
 
(..)
 
Parece que o veneno envenenou


Mas não mais a tristeza voltará a mim

(..)
 
Parece que o veneno nos mentiu


Perdeu-nos no caminho e fugiu"
 
Está frio demais para apostar em mim.
Está frio demais para me sentir.
Mas queres ficar?

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Nem tudo o que parte se volta a colar

"Pedes-me um tempo,

para balanço de vida.

Mas eu sou de letras,

não me sei dividir.


Para mim um balanço

é mesmo balançar,

balançar até dar balanço

e sair..

(...)

Agarras a minha mão

com a tua mão

e prendes-me a dizer

que me estás a salvar.

De quê?

De viver o perigo.

De quê?

De rasgar o peito.

Com o quê?

De morrer,

mas de que paixão?

De quê?

Se o que mata mais é não ver

o que a noite esconde

e não ter

nem sentir

o vento ardente

a soprar o coração...

(...)


Esqueces que às vezes,

quando falha o chão,

o salto é sem rede

e tens de abrir as mãos.

(...)

Pedes-me um sonho

para juntar os pedaços

mas nem tudo o que parte

se volta a colar.
(...)




Nem tudo o que parte se volta a colar.
Nem tudo que um dia foi tem que voltar a ser.
Nem tudo volta a ser do modo como queriamos.
Nem tudo é como queriamos que fosse.
Nem tudo em nós é como deveria ser.
Nem tudo na vida é perfeito. Nem nós. Nem aqueles de quem gostamos.

"Eu sei que ainda somos imortais. Se nos olhamos tão fundo, de frente.
Se a minha vida for por onde vais. A encher de luz os meus lugares ausentes"

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Memórias

Quando te olhei pela primeira vez não te dei o mínimo de valor. Quando te usei pela primeira vez pesavas-me e davas-me dores. Até que te comecei a sentir. Comecei a chorar em ti, a sorrir em ti. Foste a única que assistiu a tudo sob o meu ponto de vista, foste a única que viu tudo à primeira como eu queria que fosse visto. Nunca me falhaste. Falhei-te mais eu a ti. Falhei-te sempre que duvidei de ti. Falhei-te sempre que nos questionei. Falhei-te sempre que achei que não eramos capaz. Mais que isso, falhei-te quando desisti de lutar por nós. E houve um dia em que voltei, em que não quis que a nossa história acabasse e tu continuaste a lutar por nós como sempre, ao contrário do que eu tinha feito. Criámos memórias, conquistámos lugares, fizemos história.. sempre juntas! Nós e as outras que estiveram ao nosso lado. Fomos grandes, fomos intensos, fomos verdadeiros, fomos leais. Todas as memórias que tenho guardo-as em ti. Tu que viste tudo. Tu que me protegeste nas noites mais frias. Tu que me irritavas nos dias de sol abrasador. Tu que tantas vezes me fizeste ficar. Por ti, que tantas vezes me contive. Nem tudo contigo foi bom. Houve vezes em que só te queria fora de mim, longe de mim. Chegando ao final de mais uma etapa (talvez a última..) sei que fizeste todo o sentido. Foste a que mais amei e a que mais odiei. E continuas a ser. Vou sentir a tua falta, agora que o tempo vai ser menor. Entristece-me saber que já nos resta tão pouco para viver.
Gostava que continuassemos a fazer história, mas o tempo há-de nos mostrar o futuro. De qualquer forma se partirmos, parte de consciência tranquila. Com a consciência de que fomos o melhor que conseguimos. E parte com a certeza de que foste o motivo do meu grande amor, a razão para a minha enorme convicção e o orgulho de todo o meu suor.. (minha capa..)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Metáfora da vida

"Joel: [in the house on the beach] I really should go! I've gotta catch my ride.
Clementine: So go.
Joel: I did. I thought maybe you were a nut... but you were exciting.
Clementine: I wish you had stayed.
Joel: I wish I had stayed too. NOW I wish I had stayed. I wish I had done a lot of things. I wish I had... I wish I had stayed. I do.
Clementine: Well I came back downstairs and you were gone!
Joel: I walked out, I walked out the door!
Clementine: Why?
Joel: I don't know. I felt like I was a scared little kid, I was like... it was above my head, I don't know.
Clementine: You were scared?
Joel: Yeah. I thought you knew that about me. I ran back to the bonfire, trying to outrun my humiliation.
Clementine: Was it something I said?
Joel: Yeah, you said "so go." With such disdain, you know?
Clementine: Oh, I'm sorry.
Joel: It's okay.
[Walking Out]
Clementine: Joely? What if you stayed this time?
Joel: I walked out the door. There's no memory left.
Clementine: Come back and make up a good-bye at least. Let's pretend we had one.
[Joel comes back]
Clementine: Bye Joel.
Joel: I love you...
Clementine: Meet me... in Montauk..."

Eternal Sunhsine of the Spotless Mind



Uma grande metáfora da vida

sábado, 13 de fevereiro de 2010

13 irmãos

Tenho saudades dos meus 13 irmãos.
Tenho saudades das minhas 13 capas.
Tenho saudades das minhas 13 vozes que falam de maneira diferente, mas que conseguem formar um uníssono perfeito.
Tenho saudades das minhas 13 gargalhadas, das minhas 13 lágrimas, dos meus 13 olhares.

Tenho saudades de estarmos 14 numa roda, abrir uma garrafa e brindarmos ao Porto, simplesmente porque sim. Porque nos apetece. Porque temos prazer em fazê-lo. Mas, sobretudo, porque temos amor àquilo cuja definição ainda não conseguimos encontrar.

No fundo, é tudo uma questão de amor.